O que é endometriose?

A endometriose é uma doença ginecológica conhecida desde o século XVII e descrita detalhadamente pela primeira vez em 1860 por Von Rokitansky. Algumas mulheres com endometriose apresentam poucos ou nenhum sintoma, enquanto outras têm dor ou dificuldade em engravidar. Não há cura para a endometriose, mas existem várias opções de tratamento. O melhor tratamento depende da sua situação individual.

Endometriose é uma condição em que o tecido, semelhante ao tecido que reveste o útero internamente, encontra-se fora da cavidade uterina. O tecido dentro do útero é chamado de “endométrio” e o tecido externo ao útero é chamado de “endometriose”. Os locais mais comuns onde ocorre a endometriose são os ovários, as trompas de falópio, os intestinos e na membrana que reveste os órgão abdominais internamente: peritônio.

Não se sabe exatamente como ou por que isso acontece. Existem muitas teorias, mas ainda nada comprovado sobre o assunto.

Atualmente, a endometriose pode ser considerada um problema de saúde pública, tanto por seu impacto negativo na saúde física e psicológica da mulher quanto por questões socioeconômicas, visto os altos custos com diagnóstico e tratamento. 

Acredita-se que cerca de 10% da população feminina em idade reprodutiva seja portadora de endometriose.

Quais são os sintomas da endometriose?

Os principais sintomas relacionados com a doença são:

  • Dismenorreia, também conhecida como cólicas menstruais – principal sintoma relacionado a doença;
  • Dor pélvica crônica ou acíclica – pode ocorrer de forma imprevisível ou intermitente ao longo do ciclo menstrual. Apresenta características diversas, como desconforto, dor pulsante e aguda, e frequentemente piora no decorrer do tempo;
  • Dispareunia, também conhecida como dor nas relações sexuais;
  • Alterações urinárias –Ardência para urinar, sangue na urina, vontade de urinar a todo instante mesmo com a bexiga já vazia;
  • Alterações intestinais – alterações do hábito intestinal como distensão abdominal, sangramento nas fezes, constipação, e dor anal, normalmente de forma cíclica na época menstrual.
  • Sintomas atípicos podem estar presentes e devem ser valorizados pelo ginecologista, principalmente se ocorrem de forma cíclica em época menstrual, como dor irradiada para membros inferiores, dor na vagina e na vulva, dor em região glútea, dor torácica, tosse com sangue, dor epigástrica, entre outros, que podem refletir lesões em localizações menos usuais.

Todos esses sintomas também podem ser causados ​​por condições que não são endometriose. 

Geralmente, a forma mais complexa da doença está relacionada com quadro clínico mais exuberante e de maior dificuldade de tratamento clínico. Porém, essa relação não deve ser encarada como uma verdade absoluta, pois os sintomas podem variar de intensidade entre pacientes com o mesmo grau da doença, tendo em vista a grande variedade da apresentação desta patologia e a variação da percepção de dor em decorrência de inúmeros fatores (psicológicos, ambientais, comportamentais).

Existe um teste para endometriose?

Não. Os sintomas clínicos associados ao exame físico são capazes de levantar a hipótese diagnóstica em aproximadamente 70% dos casos. Infelizmente, ainda hoje, a média estimada do tempo entre o início dos sintomas referidos pelas pacientes até o diagnóstico definitivo é de aproximadamente sete anos. Durante esse período, a mulher com endometriose pode vivenciar prejuízo importante em sua qualidade de vida, devido aos sintomas.

Após avaliados os sintomas e realizado o exame ginecológico na paciente, os exames que dispomos para investagção são o  ultrassom pélvico e transvaginal e a ressonância magnética. Estes são os principais métodos por imagem para detecção e estadiamento da endometriose. Porém a  endometriose pode não ser diagnosticada por estes métodos e a única maneira de saber com certeza se você tem endometriose é fazer um procedimento cirúrgico (laparoscopia) para que se possa realmente ver e biopsiar o tecido anormal. 

A endometriose é considerada leve, moderada ou grave, dependendo do que é encontrado durante a cirurgia. Mulheres com doença leve podem ter sintomas graves e mulheres com doença grave podem ter sintomas leves.

Como é tratada a endometriose?

A endometriose pode ser tratada de diferentes maneiras. O tratamento certo para você dependerá dos seus sintomas  e se você deseja engravidar no futuro.

A endometriose deve ser abordada com uma doença crônica e merece acompanhamento durante a vida reprodutiva da mulher, momento no qual a doença manifesta seus principais sintomas. O tratamento deve ser direcionado para as queixas da paciente, assim como para a localização e extensão da doença. 

Tratamento Clínico:

O tratamento clínico é eficaz no controle da dor pélvica. O principal objetivo do tratamento clínico é o alívio dos sintomas álgicos e a melhora da qualidade de vida, não se esperando diminuição das lesões ou cura da doença, mas, sim, o controle do quadro clínico. O seguimento deve ser realizado por equipe multidisciplinar com terapia medicamentosa hormonal e analgésica, quando necessário, e terapias complementares como atividade física, fisioterapia, acupuntura e psicologia, conforme as indicações apropriadas para cada paciente. 

Podem ser usados medicamentos para tratar a endometriose. Esses incluem:

  • Medicamentos para a dor – analgésicos e anti-inflamatórios. Podem tratar a dor causada pela endometriose, porém não fazem a endometriose desaparecer.
  • Medicamentos anticoncepcionais – Certos medicamentos anticoncepcionais podem ajudar a reduzir os sintomas da dor. Este tratamento não é apropriado para mulheres que estão tentando engravidar.
  • Medicamentos que interrompem os ciclos menstruais – Esses medicamentos, impedem o organismo de produzir certos hormônios. Eles podem ser úteis para mulheres que não melhoram com medicamentos anticoncepcionais. 

Tratamentos complementares

A acupuntura pode ser utilizada como tratamento complementar para a dor pélvica.

A dor pélvica crônica pela endometriose pode causar alterações posturais e contraturas musculares, o que pode resultar em alterações musculoesqueléticas. O encaminhamento da paciente para acompanhamento com fisioterapeuta para melhora postural e fortalecimento da musculatura pélvica pode ser útil. Além disso, pacientes com dor crônica estão mais suscetíveis a desenvolver quadros depressivos e estresse psicológico, sendo necessário, em algumas situações, encaminhamento a psicólogos e/ou psiquiatras para auxílio no tratamento e acompanhamento clínico.

Por fim, nos casos refratários, pode-se considerar o seguimento em conjunto com um especialista no manejo da dor, a fim de se otimizar a analgesia, com uso de relaxantes musculares, medicações neurolépticas e bloqueios nervosos.

Tratamento Cirúrgico

Algumas mulheres optam ou possuem indicações de realizar uma cirurgia para tratar a endometriose.O tratamento cirúrgico deve ser oferecido às pacientes em que o tratamento clínico for ineficaz ou contraindicado por alguma razão.

O objetivo da cirurgia é a remoção completa de todos os focos de endometriose, restaurando a anatomia e preservando a função reprodutiva. O procedimento pode ser realizado por laparoscopia ou laparotomia; no entanto, há preferência pela laparoscopia, que permite melhor visualização das lesões endometrióticas, melhor acesso a alguns pontos da pelve, assim como melhor recuperação da paciente.

O planejamento cirúrgico, a decisão de quais órgãos sofrerão intervenções e qual a gravidade do procedimento irá depender do grau da endometriose e de quais órgãos estão afetados. Por se tratar de uma patologia com múltiplas apresentações distintas a abordagem cirúrgica é individualizada a cada caso.  

E se eu estiver tendo problemas para engravidar? 

Existe grande associação entre endometriose e infertilidade, e alguns estudos mostram que entre 25% e 50% das mulheres inférteis são portadoras de endometriose e que 30% a 50% das mulheres com endometriose apresentam infertilidade.

Se estiver com problemas para engravidar, converse com seu médico. Existem diferentes medicamentos e tratamentos que podem ajudar uma mulher a engravidar. Desde a realização de laparoscopia até mesmo a realização de Fertilização in vitro.

CONCLUSÃO

A endometriose é uma doença desafiadora, com pacientes podendo apresentar quadros álgicos importantes e/ou infertilidade, ambas situações que comprometem a qualidade de vida dessas mulheres. Uma vez realizado o diagnóstico, a abordagem deve ser feita por equipe multidisciplinar, com foco na queixa da paciente e na localização e extensão das lesões. A endometriose deve ser encarada como uma doença crônica, que merece acompanhamento durante toda a vida reprodutiva da mulher.